domingo, 18 de dezembro de 2011

HISTÓRIAS DO RÁDIO - III -

Armindo Antônio Ranzolin, 74 anos, nascido em Caxias do Sul, criado em Lages (SC) onde deu seus primeiros passos na comunicação esportiva, foi um dos mais completos narradores esportivos do rádio brasileiro. Começou na Rádio Diário da Manhã de Lages, passou pela Guaíba, Difusora Portoalegrense, Farroupilha, Guaíba e Gaúcha onde encerrou sua brilhante carreira. Acompanhei Ranzolin desde a Guaíba e o registro curioso que faço a seu respeito, diz respeito a Rádio Guaíba que encantou o mundo em 1966 com a cobertura da Copa do Mundo da Inglaterra. Lembro em 1974 (eu estava transmitindo pela Deutsche Welle e o Osmar Santos pela Jovem Pan) a final entre Alemanha e Holanda. Ao final do jogo e comemoração dos alemães no estádio estávamos nós ainda falando pela Jovem Pan, gravando boletins e acertando outros detalhes do nosso retorno ao Brasil. Foi quando ouvi o Ranzolin encerrou a cobertura da Rádio Guaíba com a frase: “Nos encontramos na Copa de 1978 na Argentina, aqui pela Guaíba”. Essa frase ele repetiu em 1978 na Argentina e em 1982 na Espanha quando novamente estávamos lado a lado. Ranzolin em 1984 foi contratado pela Rádio Gaúcha e assim seu encontro com os ouvintes na Copa do Mundo do México não ocorreu pela Rádio Guaíba e sim pela Rádio Gaúcha.


O rádio como um todo sempre teve momentos que só o rádio proporcionou e ainda proporciona. Durante a Copa do Mundo de 1974 na Alemanha, a Rádio Deutsche Welle (A Voz da Alemanha) transmitiu jogos e boletins em dezenas de línguas. Utilizou profissionais a ela vinculados e contratou-me juntamente com João Pedro Correa (que era da Rádio Nacional da Suíça) entre outros para a equipe brasileira. Foi um trabalho de fôlego. Percorri de carro e trem a Alemanha Ocidental e passei diversas vezes a fronteira com a Alemanha Oriental em companhia de Arno Rochol, um gaúcho que continua por lá. Na véspera do primeiro jogo em Mundiais entre Brasil e Argentina, que vencemos por dois a um aconteceu um fato digno de registro. Para testar a audiência Altair Carlos Pimpão (hoje diretor da TV Galega de Blumenau) e Guilherme Diecken resolveram fazer um teste. Desenharam no carpete de um dos estúdios um campo de futebol. Colocaram duas equipes de futebol de mesa (botões) para se enfrentarem. Diecken movimentava os botões e Pimpão narrava como se fosse o jogo Brasil vs. Argentina. Na abertura da transmissão anunciaram que havia uma previsão meteorológica de mau tempo no dia 30 de Junho quando jogariam Brasil e Argentina em Hannover. Com isso o jogo teria sido antecipado e Pimpão presente ao estádio iria narrar o seu desfecho. A transmissão foi dos últimos cinco
minutos com o placar apontando empate em zero a zero. Nesses cinco minutos, muitos brasileiros devem ter passado mal já que a Argentina na transmissão de Pimpão chutou duas bolas nas traves do gol defendido por Emerson Leão até que finalmente aos 44 minutos e meio veio o gol brasileiro salvador marcado por Jairzinho. Encerrado o jogo fez-se silêncio de um minuto e retomando Pimpão disse "Senhoras e senhores esta foi uma brincadeira de 1o. de Abril, boa noite". Em Manaus uma emissora que retransmitiu a Deutsche Welle entrou no maior alvoroço com a situação criada. O objetivo foi alcançado, testar a audiência da DW. Choveram telefones e cartas na sequência.

O rádio catarinense tem histórias incríveis de grandes profissionais que por lá passaram, alguns ainda vivos, outros já nos deixaram. Em Blumenau onde nasci e iniciei no rádio, quatro emissoras em AM nesta época estavam no ar. Falo das rádios Nereu Ramos, Clube, Difusora e Alvorada e todas transmitindo futebol. Eu já tinha tido uma experiência como plantão esportivo na Nereu Ramos em 1961, mas, acabei desistindo para continuar jogando futebol. Acompanhava, no entanto todos os noticiários e transmissões. Num determinado sábado à noite, aconteceu um jogo decisivo da segundona da LBF entre XV de Outubro de Indaial e Juventus de Testo Salto. Fui assistir e por curiosidade subi até a cabine onde as emissoras transmitiam os jogos. O espaço reservado era de uma cabine coletiva para todas as rádios. Fiquei atrás de Brandino Philips, que narrava pela Rádio Clube de Indaial. Ele tinha um vozeirão de fazer inveja aos locutores de hoje. Lá pelas tantas ocorreu um problema com a linha de transmissão e o Brandino virando-se me entregou o microfone pedindo que falasse alguma coisa enquanto ele corria da linha telefônica para ver qual era o problema. Não hesitei e mandei bala. Fiquei uns 15 minutos transmitindo o jogo. Só não sei se saiu no ar.

Lá por 1979 jogavam no Estádio Pedro Pedrossian (Morenão) em Campo Grande Comercial e Corinthians pelo Campeonato Brasileiro. Imprensa paulista presente pelas rádios Jovem Pan, Bandeirantes, Tupi, Globo entre outras. Naqueles tempos as rádios enviavam narradores, comentaristas, repórteres e operadores de áudio para que a cobertura fosse feita com qualidade. Neste jogo o Corinthians venceu por um a zero, gol de Geraldão. Na hora do almoço o Olho Vivo do Escrete do rádio, o mineiro Roberto Silva descobriu uma Churrascaria que tinha como principal atração o “churrasco de costela”. Grande parte da imprensa almoçou por lá. À noite já com o jogo em andamento eis que aparece abanando para Flávio Araújo na cabine da Rádio Bandeirantes, Roberto Silva. O Olho Vivo que faleceu em 2003, tinha se esquecido do jogo e do horário.

Companheiro inseparável e de grandes jornadas (falecido em 2003) Cândido de Paula Garcia, foi um dos maiores repórteres esportivos da história do rádio brasileiro. Começou no jornal passou pela Rádio Excelsior veio para a Jovem Pan e encerrou sua brilhante carreira na Transamérica. Fizemos viagens e transmissões maravilhosas enquanto estivemos juntos na Jovem Pan de 1973 a 1989. Candinho era um cara irrequieto. Não parava um minuto; sempre estava em busca das últimas informações juntos aos treinadores, jogadores e clubes. Em 1987 ao lado de Luís Carlos Pereira (o grande Luizão), Cândido e eu fomos escalados para transmitir os jogos do São Paulo e do Guarani na Copa Libertadores da América em Calama e Santiago, no Chile. Foram dois jogos em Calama e dois em Santiago. Quase vinte dias no Chile. Candinho adorava o vinho chileno e gostava de jogar baralho à noite. Luizão preferia saborear um bom vinho acompanhado de frios no amplo apartamento de três cômodos do Hotel El Conquistador em Santiago. Certa noite Candinho e eu nos divertimos jogando baralho. Lá pelas tantas olhando pela janela do apartamento verificamos o termômetro registrando 2 graus negativos. Eram quatro horas da manhã. 

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