Sou do tempo em que o futebol brasileiro era só futebol.
Grandes jogadores, estádios lotados, os atletas eram patrimônio dos clubes,
clubes com mais de 100 mil sócios, sem publicidade nas camisas, sem televisão
ao vivo. Já não temos grandes craques e os melhores deixaram de ser patrimônio
exclusivo dos clubes. Hoje não existem mais clubes com 100 mil associados. As publicidades
nas camisas tiraram a sua originalidade e os fabricantes produzem algumas de
mau gosto em cores e design. Na época em que não havia televisão ao vivo os
estádios recebiam 100 mil torcedores nos grandes jogos. Hoje 40 mil é
considerado um grande público. E o Brasil não tinha mais que 100 milhões de habitantes, hoje passamos dos
200 milhões. Antes os clubes eram administrados com os recursos dos associados
e das rendas dos jogos. Construíram seus estádios, tinham associados e os
jogadores como seu patrimônio. Hoje seus estádios estão com capacidade
reduzida, poucos associados e os jogadores deixaram de fazer parte do patrimônio
exclusivo. Estão nas mãos de empresários e especuladores. Os clubes por gastarem o que não arrecadam para se manter na elite viraram reféns da televisão. Antes
os grandes jogadores eram revelados em sua maioria pelos clubes do interior e
despontavam nos Campeonatos Estaduais. Os Estaduais de hoje estão esvaziados e
também nas mãos da televisão. Em verdade os jogadores de então não recebiam
grandes salários, mas jogavam o futebol que levou o Brasil aos títulos mundiais de 58, 62 e 70. Em 1994 e 2002 nossa seleção era formada por atletas
supervalorizados no exterior. De lá pra cá os clubes foram acumulando prejuízos
e sem o dinheiro da televisão muitos já tinham fechado as portas. Lamentavelmente o esporte mais popular do Brasil é hoje mais marketing do que futebol. É
isso aí.