quarta-feira, 11 de maio de 2011

A MORTE DO NARRADOR ESPORTIVO

Tenho acompanhando as transmissões esportivas pelo rádio há algumas décadas. No Brasil as transmissões marcaram sempre pela precisão na descrição dos lances, rapidez e vibração dos narradores esportivos. Alguns narradores imprimiam técnica e uma velocidade regular nas transmissões. E ainda há (poucos) que usam além da técnica individual também a rapidez, dicção perfeita, clara, objetiva e vibrante. Muitos narradores são lembrados por “bordões” que usavam ou ainda usam em suas transmissões e que caíram no gosto dos ouvintes. Tudo isso para dizer que aos poucos as emissoras estão “matando” os verdadeiros narradores. Se já não bastasse a falta de qualidade do futebol os dias de hoje, agora a situação também se alastra para a narração dos jogos. Existem vários responsáveis por isso. O principal é o chamado “off tube”, o “tubão” que está cada vez mais propagado no rádio. Para diminuir custos as emissoras colocam os narradores e também os comentaristas no estúdio em frente o aparelho de tevê e enviam apenas o repórter ao estádio. Desculpem-me, mas esse comportamento está matando o verdadeiro narrador de futebol. Comparem uma transmissão feita do estádio e outra do estúdio e vejam a diferença. No estádio o narrador tem uma visão ampla do jogo, da torcida e de tudo o que ocorre em volta. No estúdio fica limitado ao retângulo da tevê. Com a repetição de lances (replay) na tevê os narradores chamam a cada instante o comentarista ou o repórter e a transmissão é interrompida. A narração no estádio não tem necessáriamente a intervenção dos comentaristas a cada dois minutos como se ouve quando elas são feitas do estúdio. No “off tube” a transmissão em determinados momentos vira bate-papo e motivo para piadas – muitas de mau gosto – que nada tem a ver com o jogo. Quem ouve o futebol pelo rádio e quer ouvir o jogo, acaba correndo o dial para encontrar a narração e não esses papos furados. Como esse tipo de transmissão – off-tube – se institucionalizou no rádio, a emoção que o jogo de futebol tinha no rádio está desaparecendo. É muito triste ter que ouvir isso. Nos últimos anos não surgiram grandes revelações na narração esportiva, mas existem ainda, grandes narradores que deveriam ser respeitados e não jogados no estúdio para transmitir futebol. Não adianta só ter qualidade no som e nos equipamentos de transmissão. O rádio precisa colocar seus narradores no local dos jogos para que tenham condições de dar ao ouvinte a emoção que o futebol sempre teve através do rádio. Prá finalizar: no jogo Coritiba vs. Palmeiras (dia 4) no Couto Pereira teve rádio tradicional de São Paulo que não enviou nem repórter, que dirá narrador e comentarista. É isso aí.

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