domingo, 29 de junho de 2008

A EMOÇÃO DO FUTEBOL NO RÁDIO

29 de Junho de 1958, também um domingo, o Brasil estava ligado no rádio de norte a sul de leste a oeste. As Ondas Curtas da Rádio Bandeirantes de São Paulo eram captadas através de rádios valvulados pelo Brasil afora. Nesse dia, o país parou para ouvir a primeira grande conquista do nosso futebol, o Campeonato Mundial na Suécia. O rádio Philco na sala de visitas da casa de meus pais na Rua 2 de Setembro, 2673 no bairro da Itoupava Norte estava ligado na grande decisão Brasil e Suécia. A transmissão de vez em quando sumia e voltada. Mas lá em Estocolmo no Estádio Solna Rassunda, Pedro Luiz, Edson Leite e Mário Moraes relatam o início do jogo. “Atenção Brasil... foi dada a saída... narrava Pedro Luiz”. Ataca o Brasil, corta Bergmark abre até Simonsson passa do meio de campo vira para Hamrim este para Liedholm que chuta e é GOOOOLLLL da Suécia. Foi assim que tudo começou logo aos 4 minutos. Empatamos aos 8 com Vavá e ele mesmo encarregou-se de desempatar aos 32. Depois Pedro Luiz narrou os gols de Pelé aos 11, Zagalo aos 23, Simonsson aos 35 e novamente Pelé aos 44 consolidando a vitória por cinco a dois e dando ao Brasil o seu primeiro título mundial.
Quanta emoção
Ouvíamos o jogo e tínhamos a impressão de estar no estádio. A narração de Pedro Luiz e Edson Leite, e os comentários de Mário Moraes nos transportavam para Estocolmo. Como não havia imagem, imaginávamos os lances em nossa mente. A Bandeirantes deu um show de cobertura transmitindo todos os jogos do Brasil, apesar de todas as dificuldades, pois o som vinha por cabo submarino e não tinha a qualidade dos dias de hoje. Em São Paulo a emissora instalou alto-falantes na Praça da República, Praça da Sé, Largo São Bento e em muitos locais onde o povo se aglomerava para ouvir os jogos. Naquela época também não era qualquer pessoa que possuía um rádio em casa.
Que diferença
Serve a conquista de 1958, a cobertura fantástica daqueles profissionais nos quais eu e com certeza a maioria dos profissionais da minha idade se espelharam para tocar num assunto do presente. Quando se tem a possibilidade de ficar em casa nos dias de jogos e acompanha-los com a imagem da tevê e o som do rádio, como é o meu caso no presente instante, se chega a várias conclusões. O rádio esportivo brasileiro está navegando sem rumo, sem norte, sem direção. A qualidade de som nos dias de hoje é excelente, mesmo porque a maioria transmite direto dos seus estúdios usando a imagem da tevê. Porém o que falta é qualidade nas transmissões esportivas. Palavras bonitas são colocadas, frases de efeito repetidas, mas o conteúdo é muito fraco. As narrações quando não lineares, são em grande parte tendenciosas. É muito torcedor ao microfone. Tiro e meta e chute a gol para certos tem o mesmo valor de descrição. Errar o nome dos jogadores é a coisa mais comum, errar o nome de quem fez o gol é o que ocorre nas transmissões. Falta emoção, falta precisão, falta comando nas transmissões. Não é raro o locutor parar a transmissão com o jogo em andamento para contar uma piada que só ele entende.
Não sou professor
Gostaria de esclarecer que não sou o dono da verdade, sou apenas um praticante da narração esportiva há 44 anos que ouviu e trabalhou com os maiores narradores, comentaristas e repórteres esportivos deste país. Tenho por isso, condições para escrever sobre o assunto. Qual é o meu objetivo. O meu objetivo é de alertar aos iniciantes em rádio esportivo. Sejam autênticos, tenham estilo próprio, sejam narradores, descrevam os lances. O que transmite o jogo deve ser narrador e não locutor. Deve narrar com fidelidade cada lance, com a emoção que a jogada requer. Não quero nem falar do ritmo que se deve dar a cada momento de uma partida de futebol. O que eu gostaria de ouvir é que os “narradores” narrem o que está acontecendo. E hoje está muito fácil de narrar. A imagem está a dois metros de distância e não a 100 ou 120, a iluminação é excelente porque mesmo ruim no estádio é recuperada pela tecnologia da televisão. E tem o replay do lance, e tem o lance mostrado nos mais diversos ângulos. Confesso que sou contra a transmissão em off-tube. Isso prejudica em mais de 50% qualquer narrador. Porque vocês acham que o José Silvério não faz off-tube na Rádio Bandeirantes. Ele colocou no contrato que só transmite do estádio. Ele está correto. Todos deveriam seguir esse caminho. Mas aí vem o outro lado da história. “Se a gente não fizer off-tube perde o emprego”. A economia que as rádios fazem em não mandar seus profissionais aos estádios já chegou ao conhecimento dos anunciantes. As cotas publicitárias diminuíram e a tendência é que diminuam ainda mais se as emissoras insistirem no tubão.
Está tudo certo
Os dirigentes das rádios com raras exceções preocupam-se hoje mais com o faturamento, pouco ou quase nada importando a qualidade do produto que colocam no ar. Quando disse acima que a tendência é a diminuição ainda maior das cotas para as transmissões esportivas, apenas citei um fato que cada dia se torna mais evidente. Há uns três anos um locutor de São Paulo me dizia que todas as cotas da sua rádio estavam vendidas. E no contrato assinado constava que a emissora faria as transmissões ao vivo. Outro dia me lembrei do papo e comecei a ouvir com mais freqüência à citada emissora. Uma grande mentira. Faz pelo menos 50% das transmissões dos seus estúdios. A falta de qualidade das transmissões, a transmissão em off-tube, credenciam o rádio esportivo brasileiro cada vez mais ao descrédito perante o público e os anunciantes.
Audiências
O resultado desse comportamento está nas pesquisas de opinião publica. O site Bastidores do Rádio do competente Adriano Barbiero publicou a última pesquisa refente aos meses de Março, Abril e Maio deste ano. Aos sábados das 14 às 20 horas:
1)- Globo-AM com 0,39%, 60.635 ouvintes/minuto. 2) -Capital-AM, 0,33% com 52.679, 3) - Bandeirantes-AM, 0,21%, 33.522, 4)- Jovem Pan-AM, 0,18% com 28.847, 5)- Record-AM, 0,09% com 14.262, 6) - CBN-AM, 0,06% com 10.204 e 7) - Eldorado-AM, 0,04% com 5.673. Na hora da Bola Rolando das 16 às 18 horas. 1)- Globo com 0,46%, 72.716 ouvintes/minuto,2)- Capital, 0,33% com 52.130, 3)- Bandeirantes, 0,27% com 43.226, 4)- Jovem Pan, 0,20% com 32.005, 5)- Record, 0,10% com 15.872, 6)- CBN, 0,06% com 8.892 e 7)- Eldorado, 0,04% com 5.713 ouvintes/minuto.
No domingo das 16 às 18 horas, na Bola Rolando:
1) – Globo, 0,53% com 83.157, 2) – Bandeirantes, 0,33 com 52.722, 3)- Capital, 0,27% com 42.079, 4)- Jovem Pan, 0,24% com 37.259, 5) – Record, 0, 14% com 21.794, 6) – CBN, 0,08% com 12.349 e em 7) – Eldorado, 0,03% com 5.446 ouvintes/minuto.
Obs: Informações obtidas através de e-mail, divulgadas por agências de publicidades e profissionais da área.
São 205.822 ouvintes no sábado e 207.037 no domingo das 14 às 18 horas ouvindo as rádios AM que fazem esporte em São Paulo. Convenhamos, é um número muito pequeno de ouvintes para uma cidade com mais de 10 milhões de habitantes.

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