terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

OS DESMANDOS DO NOSSO FUTEBOL - II -

A propósito do comentário “Desmandos do nosso futebol” que publiquei nesta segunda-feira (21) o brilhante e consagrado jornalista, radialista, locutor e redator Flávio Guimarães do blog www.fg-news.blogspot.com deixou registrada a sua opinião. Por ser pertinente ao assunto e com sua devida autorização o comentário está sendo postado na sua íntegra.

O comentário
Por Flávio Guimarães

Em atenção ao convite que você me fez, estou de passagem. E aproveitei para ler seu comentário sobre a ridícula posição da CBF no caso da taça das bolinhas. Não vou me aprofundar na questão, mas, neste momento, o que se percebe é uma viva e clara intenção de tumultuar o cenário para que não se veja o que precisa ser visto. E você tocou no ponto, Edemar. O futebol brasileiro vive o pesadelo que ele mesmo provocou, ao ser ganancioso e sentar-se à mesa para comer sem medidas. Os pratos foram se alternando e os dirigentes, insaciáveis, comendo até se empanturrar. Atletas para o exterior viraram obsessão. Valendo o peso em ouro o negócio era mandar talentos para os confins do mundo, não importa para onde. Entrando dinheiro para o caixa do clube, tudo bem. Enquanto isso, as obrigações trabalhistas com os jogadores que aqui ficaram deixaram de ser recolhidas. As dívidas foram se avolumando. A grande maioria dos clubes brasileiros deve fortunas em encargos trabalhistas. E contaram, para chegar a esse ponto, com a benevolência governamental. Vista grossa para o problema, na base do "pão e circo para o povo". Deixa a galera se divertir. Enquanto isso, ninguém liga para as safadezas políticas que têm acontecido em profusão como nunca, antes, neste país. O salário tá curto? Ora, domingo tem Corinthians, tem Flamengo, tem Bahia, tem Grêmio e cada estado vibra com seus representantes. Pensar nos problemas pra quê? A falta de cobrança à seriedade deu espaço para a lógica do faturamento fácil, sem limites. Por dinheiro, fazemos qualquer negócio, habib. Direito de arena, transmissões vendidas a cifras milionárias e todos sorridentes. Era inevitável que uma hora a fatura fosse apresentada. E está dando nisso. Ninguém quer pagar a conta. Todos se acostumaram com a tolerância, inclusive das Justiças Esportiva, Comum e Trabalhista, que nunca foram rigorosas na exigência do cumprimento de deveres dos clubes para com os atletas e com as torcidas. Essa tolerância é que permite, hoje, o desrespeito às instituições. Não por outra razão a CBF desconsidera decisão judicial e faz o que bem entende. Ricardo Teixeira deve pensar lá com os botões dele, "nunca tomaram atitude e não será agora que tomarão". Futebol é coisa séria e precisa ser repensado em termos de Brasil. Já fomos a maior potência futebolística mundial, mas agora o país corre o risco de ser apontado como péssimo exemplo administrativo no esporte que já nos deu tantas glórias. A Copa do Mundo de 2014 está ameaçada, sim, Edemar. Podemos passar pelo maior vexame que a história do futebol mundial já presenciou. Você, que trabalhou com o pai da matéria, o querido Osmar Santos, sabe que o "pimba na gorduchinha" nunca significou maus tratos à bola e, por extensão, ao futebol. Muito pelo contrário. No entanto, o Trio Parada Dura, baseado no grito de Osmar, tornou famoso o bordão "bobeou a gente pimba", cujo significado é bem diferente da conotação original. Parece que para certos dirigentes esportivos, a mensagem que ficou foi exatamente a do trio. E pimba e pimba e pimba. Que parada dura. Pobre futebol brasileiro.

NR: Obrigado Flávio, o jornalismo sério do Brasil agradece!